domingo, 16 de maio de 2021

Apodi dos Índios Tapuias Paiacu

Vilmaci Viana – Sócia do IHGRN

Os primeiros habitantes do território do Apodi/RN, foram os índios Tapuia Paiacu, de quem descendemos. Eles viviam em aldeias às margens da Lagoa de Apodi, porém, por ocasião das secas, emigravam para outras regiões, retornando quando as chuvas voltavam. Usavam sandálias feitas da casca de uma árvore que chamavam de caraguá. Pintavam-se com tinta de jenipapo e urucu.

Suas ocas eram feitas de pau, cobertas de palhas ou ramos. Tinham por hábito fazer grandes fogueiras à noite, quando estendiam suas redes, para se aquecerem.

A sua alimentação básica era a caça, a pesca, o mel de abelha, frutas, cereais e raízes. Apreciavam cobras e lagartos; eram fortes, saudáveis e possuidores de grande apetite.

As curas das suas doenças eram feitas através de defumações com tabaco, introdução de folhas de certos vegetais na garganta do enfermo para provocar vômitos, aplicação de saliva, e outros recursos, sempre valendo-se da flora medicinal.

Os homens eram altos, fortes e robustos; tinham cabelos pretos, andavam inteiramente nus e colocavam um cendal de palhas e folhas nas partes genitais, enquanto as mulheres eram baixas, geralmente obesas e de boa aparência, se utilizavam de um avental confeccionado com folhas.

A moça tapuia casava-se muito jovem. Aos primeiros sinais de puberdade, a mãe a levava ao conhecimento do chefe da tribo (o rei). A moça era, então, guardada na casa dos pais. Uma vez conseguindo o noivo, era autorizado o casamento, o qual era realizado com festas, cânticos e danças. Caso não aparecesse um noivo para determinada donzela, esta era levada à presença do rei que, conforme os costumes da tribo, a desvirginava. Os índios Tapuia Paiacu eram polígamos.

Segundo o IBGE, os primeiros desbravadores a passarem nestas terras teriam sido Alonso de Hojeda, almirante espanhol, e seus companheiros de viagem: João de La Cosa e Américo Vespúcio; chegando ao Rio Apodi no final de junho de 1499, dando o nome às terras de Missão de São João do Apodi.

A colonização só viria com a concessão de sesmarias, em 19 de abril de 1680, aos irmãos Manoel Nogueira Ferreira e João Nogueira, criando diversas fazendas, porém, em 1683 houve a invasão de territórios indígenas por novos donos de sesmarias o que gerou a chamada Guerra dos Bárbaros, que durou 40 anos, fazendo com que os irmãos Nogueira abandonassem o local.

Em 1700 jesuítas chegaram ao local e conseguiram catequizar parte dos índios envolvidos nas lutas, porém, mesmo alguns desses índios catequizados foram violentamente mortos, como a índia guerreira Luísa Cantofa, que foi morta rezando o rosário de Nossa Senhora.

Os irmãos Nogueira só voltariam anos depois, com a dissolução do conflito, contribuindo imensamente com o desenvolvimento da região, culminando no núcleo do atual município.

Nos tempos atuais, a pesquisadora e descendente indígena, Lúcia Paiacu Tabajara, tem lutado pela manutenção da história dos povos originários de Apodi, tendo criado em 2013 o Museu do Índio Luiza Cantofa (o primeiro museu indígena do Estado) e, mais recentemente, em conjunto com outros indígenas e descendentes, o Centro Histórico-Cultural Tapuia Paiacu da Lagoa do Apodi (CHCTPLA).


Nenhum comentário: