Vilmaci Viana – Sócia do IHGRN
Os primeiros habitantes do território do
Apodi/RN, foram os índios Tapuia Paiacu, de quem descendemos. Eles viviam em
aldeias às margens da Lagoa de Apodi, porém, por ocasião das secas, emigravam
para outras regiões, retornando quando as chuvas voltavam. Usavam sandálias
feitas da casca de uma árvore que chamavam de caraguá. Pintavam-se com tinta de
jenipapo e urucu.
Suas ocas eram feitas de pau, cobertas de
palhas ou ramos. Tinham por hábito fazer grandes fogueiras à noite, quando
estendiam suas redes, para se aquecerem.
A sua alimentação básica era a caça, a
pesca, o mel de abelha, frutas, cereais e raízes. Apreciavam cobras e lagartos;
eram fortes, saudáveis e possuidores de grande apetite.
As curas das suas doenças eram feitas
através de defumações com tabaco, introdução de folhas de certos vegetais na
garganta do enfermo para provocar vômitos, aplicação de saliva, e outros
recursos, sempre valendo-se da flora medicinal.
Os homens eram altos, fortes e robustos;
tinham cabelos pretos, andavam inteiramente nus e colocavam um cendal de palhas
e folhas nas partes genitais, enquanto as mulheres eram baixas, geralmente
obesas e de boa aparência, se utilizavam de um avental confeccionado com
folhas.
A moça tapuia casava-se muito jovem. Aos
primeiros sinais de puberdade, a mãe a levava ao conhecimento do chefe da tribo
(o rei). A moça era, então, guardada na casa dos pais. Uma vez conseguindo o
noivo, era autorizado o casamento, o qual era realizado com festas, cânticos e
danças. Caso não aparecesse um noivo para determinada donzela, esta era levada
à presença do rei que, conforme os costumes da tribo, a desvirginava. Os índios
Tapuia Paiacu eram polígamos.
Segundo o IBGE, os primeiros desbravadores
a passarem nestas terras teriam sido Alonso de Hojeda, almirante espanhol, e
seus companheiros de viagem: João de La Cosa e Américo Vespúcio; chegando ao
Rio Apodi no final de junho de 1499, dando o nome às terras de Missão de São
João do Apodi.
A colonização só viria com a concessão de
sesmarias, em 19 de abril de 1680, aos irmãos Manoel Nogueira Ferreira e João
Nogueira, criando diversas fazendas, porém, em 1683 houve a invasão de
territórios indígenas por novos donos de sesmarias o que gerou a chamada Guerra
dos Bárbaros, que durou 40 anos, fazendo com que os irmãos Nogueira
abandonassem o local.
Em 1700 jesuítas chegaram ao local e
conseguiram catequizar parte dos índios envolvidos nas lutas, porém, mesmo
alguns desses índios catequizados foram violentamente mortos, como a índia
guerreira Luísa Cantofa, que foi morta rezando o rosário de Nossa Senhora.
Os irmãos Nogueira só voltariam anos
depois, com a dissolução do conflito, contribuindo imensamente com o
desenvolvimento da região, culminando no núcleo do atual município.
Nos tempos atuais, a pesquisadora e descendente indígena, Lúcia Paiacu Tabajara, tem lutado pela manutenção da história dos povos originários de Apodi, tendo criado em 2013 o Museu do Índio Luiza Cantofa (o primeiro museu indígena do Estado) e, mais recentemente, em conjunto com outros indígenas e descendentes, o Centro Histórico-Cultural Tapuia Paiacu da Lagoa do Apodi (CHCTPLA).

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