Um dos debates
mais inflamados neste primeiro quinto do século 21 é a dicotomia estado x
mercado. Talvez a melhor resposta seja a de que ambos têm seu papel
Por Aldo Rebelo
Na Itália
devastada pela pandemia do Coronavírus uma instituição manteve-se de pé: o
Exército italiano. Recolhe os mortos, providencia os funerais, patrulha cidades
desertas e garante a ordem pública. É o Estado italiano zelando pelo bem comum.
Nos Estados
Unidos o governo decidiu aplicar a lei que permite que a administração federal
dê ordens ao setor privado na luta contra o coronavírus. O presidente Donald
Trump anunciou uma série de medidas de proteção aos americanos mais pobres e às
empresas do país.
Há uma noção
clara nos Estados Unidos de que um império exerce seu poder apoiado no binômio
Estado/mercado, ao contrário do Brasil, onde há uma crença fanática nas razões
do mercado e a ignorância completa do papel do Estado em suprir as deficiências
desse mesmo mercado e corrigir suas deformações.
O presidente
francês Emmanuel Macron, eleito com uma plataforma liberal, declarou que no
país nenhuma empresa irá falir, mesmo que precisem ser temporariamente
nacionalizadas como proclamou seu ministro da Fazenda, Bruno Le Maire.
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Emmanuel Macron, presidente da França |
A
forte intervenção do Estado chinês – construindo e improvisando hospitais em
tempo recorde, operados pelo corpo de saúde do Exército – foi decisiva para
debelar a epidemia, reduzir o número de mortos e conter a onda de novos
contágios.
A pandemia
encarregou-se de revelar o óbvio, ou seja, só o Estado nacional foi capaz,
apesar de suas mazelas e deformidades, de expressar as aspirações nacionais e
os interesses coletivos nos momentos dramáticos da vida dos povos.
Aqui no Brasil o
esforço nacional para debelar a ação devastadora do coronavírus precisa
alcançar outro mal, de natureza ideológica, que ameaça a nação: a divisão
artificial do País em torno de agendas marginais ou secundárias, entre elas a
que ergue uma muralha a separar as funções do Estado e do mercado como
antagônicas e excludentes.
Não é exagero ou
retórica repetir que o Brasil precisa de mais Estado e mais mercado onde possam
cumprir a missão de criar desenvolvimento econômico, reduzir desigualdades e
gerar esperança para os brasileiros.