sexta-feira, 17 de abril de 2020

Mandetta nunca leu Maquiavel

Mudança de auxiliar numa gestão, seja federal, estadual ou municipal, faz parte de qualquer projeto de ajuste de Governo. Quantos ministros da Economia foram mudados neste País em governos passados, na tentativa de ser encontrado o rumo do desenvolvimento? Perdi as contas. Há mexidas, entretanto, que são provocadas ao longo do curso da administração pública.

A de Luiz Henrique Mandetta, afastado ontem da pasta de Saúde, se insere nessa situação. Bom médico e técnico, em nenhum momento rezou pela cartilha do presidente. À frente da pandemia do coronavírus, o que se esperava dele era plena sintonia com o chefe. Mas, não. Mandetta passou o tempo todo cavando a sua própria sepultura, desafiando o presidente, tentando mostrar ao País que tinha autonomia quando, na verdade, nunca teve.

Em alguns momentos, o ex-ministro foi aplaudido pelo povo brasileiro ao defender o controle absoluto do isolamento social, posição que provocou todos os seus atritos com o presidente. A medida é salutar e muitos países estão adotando para se livrar de uma tragédia maior com a dizimação de muitas vidas pelo vírus do fim do mundo. Europa e Estados Unidos agem assim, o Brasil não poderia ser diferente.

O presidente, porém, se mostra, ao longo de toda a crise do coronavírus, com posição inflexível em defesa do isolamento vertical, que obriga a quarentena para idosos e doentes crônicos, liberando os mais jovens para o trabalho. Mandetta sabia da posição do presidente desde o início, cedeu logo após sofrer um carão público do chefe, mas depois retomou o mesmo discurso, não se alinhando ao Planalto.

Ora, isso é pedir para sair. Se tivesse bom senso e amplitude em suas ações, Mandetta poderia ter entregado o cargo sem provocar polêmica. Alegaria não concordar com as recomendações do comandante e deixaria o cargo sem comprometer o plano de combate à pandemia. Mas preferiu os holofotes e sair como vítima, o que, infelizmente, conseguiu.

Em “O Príncipe”, obra prima do pensador italiano Nicolau Maquiavel, que se notabilizou em dar conselhos a governantes como deveriam agir e quais as virtudes deveriam ter, a fim de se manter no poder e aumentar suas conquistas, há uma frase que se encaixa muito bem a personalidade de Bolsonaro, que Mandetta não identificou por desconhecer o maquiavelismo: “Um príncipe tido como cruel é mais piedoso do que os que por muita clemência deixam acontecer desordens”. Por Magno Martins

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