Por Rosa Freitas*
A política não é algo ruim como muitos querem que
acreditemos. Já sabiam os gregos que quem não gosta de política é governado por
quem gosta. A política é uma arte, é um espaço (que já foi físico, como a polis
grega, hoje é simbólico) de discussão, de confrontação de ideias, é o topoi
(lugar) do embate entre propostas, projetos, visões de mundo.
Assim, como reivindicava Hannah Arendt, a política é
lugar da ação do homem sobre o mundo, não no sentido de sua apropriação
econômica, mas na construção da vida social.
Muitos morreram para que pudéssemos hoje rezar (primeira
grande reivindicação da modernidads), trabalhar (libertação dos escravos),
votar, caminhar, falar... Somente nos espaços públicos protegidos, sejam eles a
praça, o púlpito, ou esse espaço virtual, que podemos viver a política, que
podemos lutar e debater por uma nova visão de mundo.
Mas hoje, depois de tão curta e conturbada vida política,
o Brasil flerta e grita contra suas garantias democráticas mínimas.
Muitos bradam a favor da estupidez, da ignorância, contra o diálogo, contra a
política. Muitos se enamoram com o fascismo, a ditadura, contra as garantias
individuais.... Muitos gritam e xingam a política.
No centro de uma crise sanitária, muitos em seus carros
vão às ruas exigirem o fim do isolamento social, vão às portas dos hospitais
contra os trabalhos dos médicos...
Mas caros, são os trabalhadores que vão usar os ônibus,
não esses que protestam em carreatas...
Esses são os mesmos que lamentaram o fim da escravidão,
da ditadura, são aqueles contrários à democracia.
São os homens e mulheres que votaram e aplaudem um
miliciano, o mais vergonhoso presidente da história brasileira (Olha que a
competição é grande).
Vergonha! Só podemos sentir vergonha!
Os idiotas (sentido grego, aquele incapaz de viver a
política) vão tomar o mundo desse jeito.
Espero, que não sejam a maioria, mas desconfio!
A antipolítica é esse processo que vivemos, é a porta que
abriram desde o impeachment de Dilma para o antidemocrático, para a suspensão
das garantias, para a quebra da constitucionalidade.
Como poderemos resgatar o mínimo de civilidade
democrática?
Não sei...
*Advogada, escritora e poetisa
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