Por Aurivan Marinho
Sonhei que a ideologia do coronavírus não era de esquerda
nem de direita. Não pertencia a nenhum partido político e não estava aliada a
nenhuma nação ou classe social. Sonhei que todos, finalmente, puderam entender
que o coronavírus tem somente o medo como aliado, a calamidade como bandeira e
a morte como ideologia.
Sonhei, então, que a partir daí uma grande força tarefa
foi formada. Uma admirável corrente do bem invadiu o país a fora, pregando a
paz, multiplicando esforços e transformando o medo em esperança. De repente, o
governo federal, os governos estaduais e o congresso nacional deixaram de lado
as diferenças ideológicas, abdicaram dos seus interesses e vaidades, desceram
dos seus palanques, e começaram a lutar unidos a única batalha que interessa ao
povo nesse instante, a luta contra o vírus que ameaça dizimar a população
brasileira.
Sonhei que o valor da vida, quando posto na balança,
pesou mais do que qualquer projeto de poder político, do que a ganância pelo
dinheiro, do que a fama ou a publicidade pessoal. Assim, é que artistas,
jogadores de futebol, empresários, banqueiros e personalidades diversas,
voluntária e solidariamente, propuseram-se a encabeçar uma grande mobilização
com toda sociedade, no propósito de adotar o maior número possível de pessoas
que perderam seus empregos ou que dependiam do trabalho informal.
Sonhei que as instalações das igrejas, dos estádios de
futebol, dos prédios ociosos e dos estabelecimentos das instituições mais
diversas eram transformadas em abrigos, restaurantes e enfermarias para
assistir e proteger os mais vulneráveis das nossas cidades. Para lá, eram
conduzidos catadores de lixo, pessoas em situação de rua, idosos desassistidos,
crianças abandonadas, moradores de palafitas e tantos outros trazidos dos
morros e dos guetos. Todos eram instruídos a como se prevenirem contra o vírus,
por agentes de saúde e voluntários treinados. Todos recebiam roupas, cobertores
e colchões. Todos eram devida e justamente alimentados. Todos eram
higienizados, pois podiam abrir a torneira e lavar as mãos com água e sabão. A
todos era oferecido e permitido o acesso necessário aos meios de prevenção e
sobrevivência.
Sonhei que, desse modo, o poderoso corona vírus foi
perdendo forças. Um poder maior caminhou pelas ruas das cidades, fazendo o
poder da peste e da morte recuarem. Ao invés da bandeira da calamidade, foi
hasteada a bandeira da solidariedade. Ao invés da ideologia da morte,
prevaleceu a paixão pela vida, o amor pelo o próximo, a fé traduzida em obras,
a esperança que traz paz, o altruísmo que supera o egoísmo, a misericórdia que
transcende o sacrifício.
Sonhei que depois do coronavírus, apesar do impacto
negativo deixado na economia e das inúmeras famílias enlutadas, teríamos uma
igreja e um mundo melhor. Seríamos mais solidários e menos ensimesmados, menos
consumistas e mais satisfeitos. Seríamos uma igreja mais de missão do que de
exibição. O crescimento seria determinado pela evangelização e não pela a
divisão, pela a prática do discipulado e não por estratégias de marketing.
Seríamos mais conhecidos pelo o exercício da misericórdia e da compaixão, do
que pelos os escândalos e a insensatez dos nossos atos. Seríamos, sobretudo,
culturalmente mais relevantes. Pois ao invés de nos amoldarmos a cultura ou de
simplesmente condená-la, seríamos agentes da providência de Deus para transformá-la.
Portanto, sonhei que vencíamos o coronavírus, mas não sem que primeiro
derrotássemos o "vírus" da intolerância, da polarização raivosa e do
egoísmo. "O amor é paciente; o amor é benigno. Não é invejoso; não se
vangloria, não se orgulha, não se porta com indecência, não busca os próprios
interesses, não se enfurece, não guarda ressentimento do mal; não se alegra com
a injustiça, mas congratula-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta. Portanto, agora permanecem estes três: a fé, a esperança e o
amor. Mas o maior deles é o amor." (1Co 13.4-7,13).
Solus Christus!
Pr. Aurivan Marinho
Dados biográficos do pr. Aurivan:
O pastor Aurivan Marinho é bacharel em Teologia, mestre
em Teologia Histórica e Graduado em Filosofia. Tem se destacado como conferencista
e expositor da palavra de Deus. Durante oitos anos foi presidente da Aliança
das Igrejas Congregacionais do Brasil. Atualmente leciona a cadeira de teologia
sistemática no SETEBAN-PE, é pastor da Igreja Evangélica Congregacional da
Estância em Recife-PE e Membro do Conselho Consultivo da SBB. É casado com Maria
Aparecida Freire e pai de Cássio.
Um comentário:
Concordo plenamente com você pastor parabéns pelo artigo
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