quinta-feira, 26 de março de 2020

Hoje eu tive um sonho!

Por Aurivan Marinho

Sonhei que a ideologia do coronavírus não era de esquerda nem de direita. Não pertencia a nenhum partido político e não estava aliada a nenhuma nação ou classe social. Sonhei que todos, finalmente, puderam entender que o coronavírus tem somente o medo como aliado, a calamidade como bandeira e a morte como ideologia.

Sonhei, então, que a partir daí uma grande força tarefa foi formada. Uma admirável corrente do bem invadiu o país a fora, pregando a paz, multiplicando esforços e transformando o medo em esperança. De repente, o governo federal, os governos estaduais e o congresso nacional deixaram de lado as diferenças ideológicas, abdicaram dos seus interesses e vaidades, desceram dos seus palanques, e começaram a lutar unidos a única batalha que interessa ao povo nesse instante, a luta contra o vírus que ameaça dizimar a população brasileira.

Sonhei que o valor da vida, quando posto na balança, pesou mais do que qualquer projeto de poder político, do que a ganância pelo dinheiro, do que a fama ou a publicidade pessoal. Assim, é que artistas, jogadores de futebol, empresários, banqueiros e personalidades diversas, voluntária e solidariamente, propuseram-se a encabeçar uma grande mobilização com toda sociedade, no propósito de adotar o maior número possível de pessoas que perderam seus empregos ou que dependiam do trabalho informal.

Sonhei que as instalações das igrejas, dos estádios de futebol, dos prédios ociosos e dos estabelecimentos das instituições mais diversas eram transformadas em abrigos, restaurantes e enfermarias para assistir e proteger os mais vulneráveis das nossas cidades. Para lá, eram conduzidos catadores de lixo, pessoas em situação de rua, idosos desassistidos, crianças abandonadas, moradores de palafitas e tantos outros trazidos dos morros e dos guetos. Todos eram instruídos a como se prevenirem contra o vírus, por agentes de saúde e voluntários treinados. Todos recebiam roupas, cobertores e colchões. Todos eram devida e justamente alimentados. Todos eram higienizados, pois podiam abrir a torneira e lavar as mãos com água e sabão. A todos era oferecido e permitido o acesso necessário aos meios de prevenção e sobrevivência.

Sonhei que, desse modo, o poderoso corona vírus foi perdendo forças. Um poder maior caminhou pelas ruas das cidades, fazendo o poder da peste e da morte recuarem. Ao invés da bandeira da calamidade, foi hasteada a bandeira da solidariedade. Ao invés da ideologia da morte, prevaleceu a paixão pela vida, o amor pelo o próximo, a fé traduzida em obras, a esperança que traz paz, o altruísmo que supera o egoísmo, a misericórdia que transcende o sacrifício.

Sonhei que depois do coronavírus, apesar do impacto negativo deixado na economia e das inúmeras famílias enlutadas, teríamos uma igreja e um mundo melhor. Seríamos mais solidários e menos ensimesmados, menos consumistas e mais satisfeitos. Seríamos uma igreja mais de missão do que de exibição. O crescimento seria determinado pela evangelização e não pela a divisão, pela a prática do discipulado e não por estratégias de marketing. Seríamos mais conhecidos pelo o exercício da misericórdia e da compaixão, do que pelos os escândalos e a insensatez dos nossos atos. Seríamos, sobretudo, culturalmente mais relevantes. Pois ao invés de nos amoldarmos a cultura ou de simplesmente condená-la, seríamos agentes da providência de Deus para transformá-la. Portanto, sonhei que vencíamos o coronavírus, mas não sem que primeiro derrotássemos o "vírus" da intolerância, da polarização raivosa e do egoísmo. "O amor é paciente; o amor é benigno. Não é invejoso; não se vangloria, não se orgulha, não se porta com indecência, não busca os próprios interesses, não se enfurece, não guarda ressentimento do mal; não se alegra com a injustiça, mas congratula-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Portanto, agora permanecem estes três: a fé, a esperança e o amor. Mas o maior deles é o amor." (1Co 13.4-7,13).


Solus Christus!
Pr. Aurivan Marinho

Dados biográficos do pr. Aurivan:
O pastor Aurivan Marinho é bacharel em Teologia, mestre em Teologia Histórica e Graduado em Filosofia. Tem se destacado como conferencista e expositor da palavra de Deus. Durante oitos anos foi presidente da Aliança das Igrejas Congregacionais do Brasil. Atualmente leciona a cadeira de teologia sistemática no SETEBAN-PE, é pastor da Igreja Evangélica Congregacional da Estância em Recife-PE e Membro do Conselho Consultivo da SBB. É casado com Maria Aparecida Freire e pai de Cássio.

Um comentário:

Unknown disse...

Concordo plenamente com você pastor parabéns pelo artigo