Nascida e criada
no município de Catolé do Rocha/PB, em uma casa com 11 irmãos e sob o olhar de
um pai rígido e conservador, Ivonilda de Sousa Lima, 53 anos, popularmente
conhecida como “Nova”, moradora da Associação dos Produtores Rurais Agrovila
Palmares, na zona rural do município de Apodi, RN, conta que em sua
adolescência jamais imaginou que se tornaria uma liderança comunitária. Aos 18
anos mudou-se para Apodi, onde concluiu o ensino médio. Nesse período
trabalhava numa lanchonete, estudava e fazia tarefas domésticas em casa, com a
mãe. Ela conta que tinha vontade de participar de ações das organizações
sociais e não podia porque o pai não deixava. E essa postura interferiu
inclusive em seus estudos: “hoje eu não sou formada porque ele nunca aceitou eu
ir de Apodi para Mossoró no ônibus, porque só ia homens, ele dizia. Ele era
muito machista”, explica Nova, que em sua juventude sempre teve menos
oportunidades por ser mulher.
Nova hoje é
casada, tem três filhos, é a presidente do “Grupo de Mulheres Juntas
Venceremos” e coordenadora da comissão de mulheres do Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Apodi (STTR Apodi/RN). Mas a trajetória
para chegar até essas conquistas foi árdua.
Aos 8 anos de
idade Nova já trabalhava com os pais no roçado e com carvão, tentando conciliar
a responsabilidade precoce e os estudos. A agricultora conta que sua vida
começou a mudar a partir de sua aproximação com duas instituições: o sindicato
e o Centro Feminista 8 de Março, instituição que tem várias iniciativas
apoiadas pela ActionAid.
O primeiro
contato, segundo ela, foi numa formação sobre feminismo realizada no ano 2000
através de uma parceria entre essas duas instituições. A partir desse momento
Nova conta que passou a frequentar as reuniões da comissão de mulheres do STTR
e sempre que podia participava de formações realizadas pelo Centro Feminista.
Com o incentivo dessas duas instituições foi formado um grupo de mulheres na
comunidade. A partir disso, de acordo com ela, as mulheres conquistaram mais
liberdade e autonomia sobre suas vidas. Por ser a pessoa que sempre esteve mais
próxima das instituições e por seu papel de mobilização em Palmares, Nova se
tornou uma referência não só em sua comunidade, mas no município de Apodi.
Fazer parte da diretoria do sindicato e contribuir para a transformação da vida
de outras mulheres para ela é uma satisfação: “eu me sinto muito feliz em poder
também estar ajudando a elas, sempre que eu vou pra um canto que elas querem
saber de uma informação, que elas confiam em mim e me perguntam, e eu converso
com elas, explico tudinho como é a importância do CF8 (Centro Feminista), do
sindicato, das comissões, e eu ter a capacidade de falar, eu tenho o maior
prazer de responder”, conta ela.
Além das
formações, o Centro Feminista também atua em Palmares com projetos de
assistência técnica rural, com incentivos à agricultura familiar e ao trabalho
das mulheres.
Nova é
agricultura, planta em seu quintal, cria galinhas e sua produção para consumo
próprio ajuda a equilibrar a renda da família. O desejo dela era poder viver
somente dessas atividades: “pra mim (o meu maior desejo) era se a gente pudesse
viver só da agricultura familiar, produzindo e comercializando”. Ela revela que
o esposo também gosta da agricultura, mas trabalha em uma firma porque nas
condições atuais não dá para tirar o sustento só dessa atividade.
Para o futuro o
anseio de Nova é que outras mulheres da comunidade também possam ocupar esses
espaços e que através da auto-organização possam desenvolver mais atividades em
conjunto: “O meu sonho era que a gente trabalhasse no quintal, mas que também o
grupo tivesse um espaço coletivo pra gente trabalhar juntas”.
Apesar
das conquistas, Nova reconhece que ainda há muito o que ser feito. Ela comenta
que o machismo ainda é um agravante na vida das mulheres da comunidade e que os
homens, muitas vezes desvalorizam seu trabalho e o de suas companheiras, mas ela
não se deixa abalar: “eles não sabem qual a importância da gente estar ali,
naquele momento, né?”, afirma ela, reforçando a importância da participação das
mulheres na vida social e política da comunidade.
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