Nordeste é de longe a região
com a maior perda de postos de trabalho e massa de salário
Vinicius
Torres Freire – Folha de S.Paulo
A economia do
Nordeste vai tão mal quanto a média do Brasil desde 2014 e até um tico melhor
que a do Sudeste, a julgar pelos números do PIB. A situação do povo nordestino
é muitíssimo pior, quando se analisam emprego e salário.
No Brasil do
primeiro trimestre deste ano, o número
de pessoas ocupadas, com algum trabalho, era 1,6% menor do que no
início de 2015, quando emprego e rendimentos ainda estavam perto do pico, antes
do massacre da recessão. Isto é, há 1,4 milhão de pessoas empregadas a menos.
No Nordeste, 1,7 milhão de ocupados a menos, em baixa de ainda 7,6%.
É fácil perceber
que, nas demais regiões, o saldo de pessoas empregadas está no azul, com a
ligeira exceção da região Sul. A morte do emprego ainda é severina.
No Nordeste, a
soma dos rendimentos do trabalho ainda é 4,9% menor do que no início de 2015.
Na média brasileira, 1,6% menor.
O grosso dos
empregos nordestinos desapareceu na agropecuária. No Brasil, o número de
ocupados nesse setor caiu 1,062 milhão de 2015 a este 2018. No Nordeste, 1,024
milhão, quase toda a perda de empregos rurais no país. Mais espantoso, é uma
redução de 26,7% da população empregada em agropecuária.
Parece fácil atribuir
o desastre aos seis anos e pouco de seca no Nordeste, o que pouco se discutiu
no restante do país. Mas o massacre da pequena agricultura sem água não parece
resolver essa equação por inteiro.
Em quase todo o
Brasil, o emprego na agropecuária vinha diminuindo bem antes da crise, em parte
devido a ganhos de eficiência e avanço da grande empresa agropecuária. O
crescimento econômico e benefícios sociais favoreciam a absorção dessa mão de
obra, muita vez no pequeno comércio e nos pequenos serviços de cidades miúdas.
Depois do desastre recessivo, muitas portas se fecharam.
A seca não
foi a única calamidade da economia nordestina. A recessão na indústria de
petróleo e combustíveis, assim como o grande colapso na produção de veículos,
quebrou uma perna mais avançada da região, em particular na Bahia. O fim ou
interrupção de grandes obras, algumas delas elefantes brancos do período
dilmiano, deixaram sem serviço a construção civil.
O setor de obras
é uma das covas mais fundas da grande crise brasileira, em quase qualquer lugar
do país. O número de pessoas ocupadas na construção civil ainda é 1 milhão
menor do que no início de 2015. No Nordeste, são 473 mil ocupados a menos. No
Sudeste, de população e economia muito maiores, são 295 mil a menos.
Deveria parecer
evidente que, sem resolver problemas macroeconômicos graves e rudimentares,
tais como governo quebrado, o país não sairá do brejo. Ainda que saiamos, há,
porém, outros consertos mais localizados a fazer. Destravar investimentos na
construção civil é uma tarefa mais do que atrasada. Dar prioridade ao Nordeste
sem emprego é outra.
Na intersecção
dessas tarefas parece claro que investir de modo maciço em obras de água e
esgoto, saneamento, se torna ainda mais urgente, seja com dinheiro público
(muito escasso) ou privado. Para tanto, é preciso dar um jeito na regulação e
organização do setor, caótico, estatizado e muito regionalizado, fonte de
boquinhas para a política local.
Como se vê, é um
problema além e aquém de debates macroeconômicos, um problema de regulação e um
problema de desenvolvimento regional, que pouco discutimos nesta roça
brasileira.
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