Bernardo Mello Franco - O Globo
Michel Temer vai
perder o foro privilegiado, mas não quer perder a piada. Na última reunião
ministerial, o presidente fez troça com os constantes protestos contra seu
governo. “Vou sentir muita falta do ‘Fora, Temer’. Quando falavam ‘Fora’, era
porque eu estava dentro. Agora estarei fora mesmo”, gracejou.
É melhor rir do
que chorar, mas Temer não tem muitas razões para mostrar os dentes. Ele deixará
o poder como o presidente mais detestado desde o fim da ditadura. Seu governo é
reprovado por 85% dos brasileiros, informou o Ibope na semana passada.
Se a saudade do
“Fora, Temer” pode soar como humor inoportuno, os últimos atos do presidente
refletem uma clara atitude de deboche. No início da semana, ele indicou o
notório André Moura para o cargo de diretor da Anvisa. O deputado já foi alvo
de quatro condenações na Justiça.
Na quarta-feira,
o presidente tomou um avião da FAB para inaugurar um monumento a si mesmo: o
Centro de Memória Michel Temer, em Itu. O local vai abrigar 76 mil itens, sendo
que 47 mil serão cópias de e-mails. O acervo também reunirá 1.129 mídias
audiovisuais. O Planalto não informou se a gravação com o empresário Joesley
Batista integra a lista. Deveria, porque nela o emedebista disse a frase mais
marcante dos seus 963 dias de governo: “Tem que manter isso, viu?”.
Depois de fazer
um discurso cheio de autoelogios, Temer voltou a ser confrontado com a
realidade. Ele já havia garantido seu lugar na História ao se tornar o primeiro
presidente a ser denunciado formalmente por corrupção no exercício do cargo.
Agora bateu o próprio recorde: virou alvo da terceira denúncia da Procuradoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário