Por Maciel Melo*
Uma lapinha, duas velas acesas e uma imagem de Jesus
Cristo no colo de Maria; é a paisagem perfeita para uma fotografia de final de
ano. A lente invertida do olho amplia o foco e se transforma numa grande
angular, revelando segredos, ampliando momentos e editando um filme que foi
rodado durante trezentos e sessenta e cinco dias.
O Natal é um flash de Deus, é a essência da palavra
rebento, é a crucificação do ódio, o calvário da inveja e a hibernação do
orgulho, que só despertarão de janeiro “invante”, naqueles que só sabem o que é
amor ao próximo nesta época do ano, como se a data do nascimento de Cristo
fosse uma borracha de apagar pecados.
É a remissão dos erros inconsequentes, ou inconscientes,
que cometemos com o nosso próximo, discriminando gênero, raça, religião e
parentesco.
É também a gestação de um novo ano, que poderá nascer com
algum defeito de fabricação, se não lubrificarmos bem as peças da engrenagem da
vida.
Esse lubrificante é importado. Ele fica armazenado atrás
da porta do coração e custa apenas alguns tostões de atenção, umas
merrecas de carinho, ou, dependendo da ausência do indivíduo, pode
custar-lhe uma solidão eterna.
O Natal não é apenas um presente, um panetone ou um
sorriso que ficou travado durante o ano inteiro e agora destrava os dentes,
cheios de manchas do vinho, que ficou guardado na adega durante doze meses,
esperando o saca-rolha de Papai Noel, para brindar a família e cantar o
Jingle-Bell.
O Natal é um embrião chamado Natalício, que começa a
fecundar em janeiro e tem seu parto feito em dezembro.
Prepare seu presépio, mas não esqueça que as lapinhas
estão nos morros, nas favelas, nas periferias e nas casas onde moram os
invisíveis seres humanos, apelidados de Joões Ninguém, sem vez, sem voz e sem
vida.
*Maciel Melo, sertanejo de Iguaracy, é cantor,
compositor e escritor. E continua um Caboclo Sonhador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário