A prisão de Lula
espalhou entre os poderosos da política um sentimento muito parecido com o que
inquieta os ambulantes que comercializam produtos pirateados nas esquinas das
grandes cidades. Os encrencados graúdos, ainda protegidos dentro da bola do
foro privilegiado, passaram a enxergar a Lava Jato como uma espécie de rapa.
Não importa o cargo ou o partido. De Michel Temer a Aécio Neves, todos passaram
a cultivar o receio de que, depois do que aconteceu com Lula, o rapa pode
recolher qualquer um na primeira esquina.
Intensifica-se em
Brasília a pregação segundo a qual a Lava Jato está criminalizando a política.
Pensando bem, faz todo sentido. A maior operação anticorrupção já deflagrada no
país está colocando atrás das grades criminosos que utilizaram seu poder político
para armar com empresários desonestos emboscadas contra o erário. Quem
criminalizou a política foram os criminosos, não os investigadores ou os
magistrados.
Nesse contexto, a
prisão de Lula pode representar um marco ou um fiasco. Seria um marco se o rapa
migrasse da periferia onde estão os 'sem
foro' para os salões dos afortunados 'com foro'. Seria um fiasco se o
Supremo Tribunal Federal modificasse a regra que permite a prisão de condenados
em segunda instância e retardasse eternamente a conclusão do julgamento que
restringirá a abrangência do foro privilegiado. A combinação dessas duas
novidades nefastas inibiria o único sentimento capaz de reduzir o índice de
corrupção no Brasil: o medo do rapa.
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