domingo, 15 de outubro de 2017

Os Mártires da Segurança Pública do RN

Por Erick, O Caçador

No mesmo tempo em que ocorre a canonização, pela Igreja Católica, dos primeiros santos potiguares - os Mártires de Cunhaú e Uruaçu - vítimas da violência de séculos atrás, o Estado do RN tem novos mártires nas pessoas dos Operadores de Segurança Pública, perseguidos e assassinados por conta de suas vidas dedicadas à proteção da Sociedade. No ano de 2017, a palavra "martírio", definitivamente, está na pauta. Já são muitos os mártires da Segurança Pública do Rio Grande do Norte: na verdade, nunca houve tantos como agora.

Bairro do Bom Pastor, zona oeste da capital do Estado. Nesse bairro batizado com o nome de uma antiga casa de caridade da beneficência católica, temos hoje o domínio do medo. O Poder Paralelo de uma Facção Criminosa se impõe ao do Estado de forma aberta, ostensiva. Cartazes colados em postes e pichações nas paredes avisam a todos as regras do Sindicato do Crime do RN. Enquanto a comitiva de 400 pessoas do Governo do Estado reza no Vaticano, na cerimônia de canonização dos mártires do passado, uma comunidade natalense inteira reza pedindo socorro, em meio ao martírio do presente. São milhares de pessoas que só esperam em Deus, pois o Estado está desacreditado. Pelas noites desertas do Bom Pastor, há um toque de recolher nas ruas.

Na noite do dia 10 de outubro, o Agente Penitenciário Thiago Jefferson, membro do hoje (infelizmente) sucateado Grupo de Operações Especiais do Sistema Prisional, foi executado com 5 tiros na cabeça ao chegar em sua casa, no Bom Pastor. Há um "salve" em vigor, por lá, com a diretriz de assassinar defensores da Sociedade. Poucos dias após, surge a informação que mais dois trabalhadores e pais de família, moradores da mesma Comunidade, estão marcados para morrer: um policial civil e um militar. Suas famílias, desesperadas, se perguntam: "Quem socorre a polícia? Quem defende a família do policial?" A madrugada é de insônia! Nas redes sociais, alguns amigos se prontificam a ajudar.  Ademais, é esperar em Deus, que do Estado nada se espera. Nem o salário se recebe em dia... Quem quiser saber o que é martírio, que se ponha na pele dessa gente!

"Um bairro que o cara nasceu, se criou com toda sua família, seus amigos, onde constrói sua casa... E tem que jogar tudo para o alto, por ser ameaçado por traficantes de Facções. Aí, você vê todo seu sonho jogado fora." - desabafou um desses homens marcados para morrer (omitiremos seu nome, por motivos óbvios). Quem protege os protetores? Há que se esperar em Deus, pois que do Estado, nada se espera. O RN não tem nenhuma Delegacia ou Batalhão PM especializado na defesa de Agentes Públicos ameaçados, nenhum programa de assistência social ou de proteção nesse sentido, apesar da fartura de crimes contra esses profissionais e suas famílias, no bojo da Guerra Civil imunda e não reconhecida como tal pelas Autoridades.

Mártires do passado, mártires do presente. O que você faria se estivesse marcado para morrer? Já pensou nisso?

Alguém diria: "Eu mataria antes, para não morrer." - para esse, mídia antipolícia, show televisivo de mães de bandidos chorando, investigações do Ministério Público e ONGs de Direitos Humanos. Outro diria: "Eu fugiria para bem longe" - para esse outro, salário minguado, atrasado e parcelado, junto com uma Instituição pouco interessada nos "problemas pessoais" de seus membros. Já um terceiro, diria: "Eu botava a boca no trombone, para denunciar o absurdo da situação" - e esse teria a estranha sensação de, solitário, gritar numa lua de Saturno, sob a luz de estrelas mortas há milênios... De resto, é esperar em Deus, que do Estado nada se espera.

No Bom Pastor, cordeiros estão no abatedouro. Quem quiser saber o que é martírio, que se ponha na pele dessa gente!

Alguma coisa vai mudar, a partir daqui? No silêncio da madrugada em que escrevo, me contempla um céu de estrelas mortas há milênios... Espero em Deus proteção para essa gente que protege gente, e faço meu rogo extensivo às suas famílias.

Erick Guerra, O Caçador

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