Por Erick, O
Caçador
No mesmo tempo em
que ocorre a canonização, pela Igreja Católica, dos primeiros santos potiguares
- os Mártires de Cunhaú e Uruaçu - vítimas da violência de séculos atrás, o
Estado do RN tem novos mártires nas pessoas dos Operadores de Segurança Pública,
perseguidos e assassinados por conta de suas vidas dedicadas à proteção da
Sociedade. No ano de 2017, a palavra "martírio", definitivamente,
está na pauta. Já são muitos os mártires da Segurança Pública do Rio Grande do
Norte: na verdade, nunca houve tantos como agora.
Bairro do Bom
Pastor, zona oeste da capital do Estado. Nesse bairro batizado com o nome de
uma antiga casa de caridade da beneficência católica, temos hoje o domínio do
medo. O Poder Paralelo de uma Facção Criminosa se impõe ao do Estado de forma
aberta, ostensiva. Cartazes colados em postes e pichações nas paredes avisam a
todos as regras do Sindicato do Crime do RN. Enquanto a comitiva de 400 pessoas
do Governo do Estado reza no Vaticano, na cerimônia de canonização dos mártires
do passado, uma comunidade natalense inteira reza pedindo socorro, em meio ao
martírio do presente. São milhares de pessoas que só esperam em Deus, pois o
Estado está desacreditado. Pelas noites desertas do Bom Pastor, há um toque de
recolher nas ruas.
Na noite do dia
10 de outubro, o Agente Penitenciário Thiago Jefferson, membro do hoje
(infelizmente) sucateado Grupo de Operações Especiais do Sistema Prisional, foi
executado com 5 tiros na cabeça ao chegar em sua casa, no Bom Pastor. Há um
"salve" em vigor, por lá, com a diretriz de assassinar defensores da
Sociedade. Poucos dias após, surge a informação que mais dois trabalhadores e
pais de família, moradores da mesma Comunidade, estão marcados para morrer: um
policial civil e um militar. Suas famílias, desesperadas, se perguntam:
"Quem socorre a polícia? Quem defende a família do policial?" A
madrugada é de insônia! Nas redes sociais, alguns amigos se prontificam a
ajudar. Ademais, é esperar em Deus, que do Estado nada se espera. Nem o
salário se recebe em dia... Quem quiser saber o que é martírio, que se ponha na
pele dessa gente!
"Um bairro
que o cara nasceu, se criou com toda sua família, seus amigos, onde constrói
sua casa... E tem que jogar tudo para o alto, por ser ameaçado por traficantes
de Facções. Aí, você vê todo seu sonho jogado fora." - desabafou um desses
homens marcados para morrer (omitiremos seu nome, por motivos óbvios). Quem
protege os protetores? Há que se esperar em Deus, pois que do Estado, nada se
espera. O RN não tem nenhuma Delegacia ou Batalhão PM especializado na defesa
de Agentes Públicos ameaçados, nenhum programa de assistência social ou de
proteção nesse sentido, apesar da fartura de crimes contra esses profissionais
e suas famílias, no bojo da Guerra Civil imunda e não reconhecida como tal
pelas Autoridades.
Mártires do
passado, mártires do presente. O que você faria se estivesse marcado para
morrer? Já pensou nisso?
Alguém
diria: "Eu mataria antes, para não morrer." - para esse, mídia
antipolícia, show televisivo de mães de bandidos chorando, investigações do
Ministério Público e ONGs de Direitos Humanos. Outro diria: "Eu fugiria
para bem longe" - para esse outro, salário minguado, atrasado e parcelado,
junto com uma Instituição pouco interessada nos "problemas pessoais"
de seus membros. Já um terceiro, diria: "Eu botava a boca no trombone,
para denunciar o absurdo da situação" - e esse teria a estranha sensação
de, solitário, gritar numa lua de Saturno, sob a luz de estrelas mortas há
milênios... De resto, é esperar em Deus, que do Estado nada se espera.
No Bom Pastor,
cordeiros estão no abatedouro. Quem quiser saber o que é martírio, que se ponha
na pele dessa gente!
Alguma coisa vai
mudar, a partir daqui? No silêncio da madrugada em que escrevo, me contempla um
céu de estrelas mortas há milênios... Espero em Deus proteção para essa gente
que protege gente, e faço meu rogo extensivo às suas famílias.
Erick Guerra, O
Caçador
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