Por José
Casado – O Globo
Michel Temer é um político estimado no Congresso. Sua
habilidade como negociador foi demonstrada no período 1997 a 2009, quando
ganhou três eleições para a presidência da Câmara – numa delas teve apoio até
da oposição: candidato único, recebeu 422 dos 513 votos possíveis. Agradeceu,
em discurso, e sugeriu aos deputados federais que fizessem seu trabalho “com os
olhos voltados para as agruras das ruas”.
Às vésperas do julgamento político, Temer reafirma a
destreza em negociações com os seus juízes no ambiente legislativo.
Temer já gastou o que não podia. Numa etapa de cofres
vazios, torrou R$ 6 bilhões para atender aliados. Não é pouco. Essa dinheirama
equivale a toda a receita esperada com o recente aumento da tributação sobre os
preços dos combustíveis. Comprometeu R$ 4 bilhões para saldo no fim do ano.
Outros R$ 2 bilhões foram pagos até quinta-feira passada, dia 27.
É o estilo Temer de negociar com o dinheiro alheio, isto
é, dos contribuintes. Em 1997, venceu a eleição para a presidência da Câmara
com a promessa de triplicar a verba de despesas de gabinete dos 513 deputados,
mais um aumento nos gastos com assessorias, geralmente usadas para empregar
cabos eleitorais.
Desta vez, cuidou de manter sua generosidade estendida às
fileiras da oposição, onde se ouve um “Fora Temer!” a cada cinco minutos no
plenário. Até quinta-feira passada, por exemplo, havia liberado em média R$ 3
milhões para cada um dos 85 parlamentares do seu PMDB (63 deputados e 22
senadores). Natural, por se tratar do partido do presidente que vai a
julgamento político.
Magnânimo, Temer deu tratamento ainda melhor aos
oposicionistas. Aos seis parlamentares do PSOL pagou em média R$ 3,8 milhões em
emendas. Aos 67 do PT destinou R$ 2,7 milhões. E para os 13 do PCdoB liberou R$
2,1 milhões. No Palácio do Planalto justifica-se com o “espírito democrático”
do presidente.
Sempre que promete, Temer cumpre. E a conta é paga pelo
Tesouro Nacional.
Sorrindo, negociando e distribuindo, nesses 75 dias desde
que os repórteres Lauro Jardim e Guilherme Amado divulgaram o grampo sobre suas
estranhas transações com Joesley Batista, Temer conseguiu reverter as
expectativas na Câmara. Porém, ao contrário de 1997, já não pode sugerir aos
deputados que votem com o olhos nas “agruras das ruas”.
A voz das ruas virou clamor, de reprovação da massa de
norte a sul, leste a oeste, em todas faixas de renda, escolaridade e sexo.
Assim demonstram pesquisas realizadas na semana passada pelo Ibope/Avaaz e
Idea/Agora!
Numa, a maioria absoluta (81%) se declara a favor do
processo. Mais de dois terços (79%) acham a denúncia correta e, expressamente,
consideram quem votar contra a abertura da investigação um cúmplice de
corrupção. Acham (73%) autores de voto a favor do presidente na Câmara não
merecem reeleição nas urnas.
Em outra pesquisa, a maioria (57%) diz claramente:
políticos envolvidos em casos de corrupção, como os investigados na Operação
Lava-Jato, não valem o voto na eleição do ano que vem.
Apoiar Temer pode ser rentável, mas virou negócio
temerário: deputados correm o risco de brigar com o próprio eleitorado.
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