terça-feira, 11 de julho de 2017

Policiais dão a vida pelo quê?

Por Erick, O Caçador

A tragédia de policiais sendo assassinados por marginais assumiu proporções enormes no Brasil inteiro. Policiais morrem violentamente de serviço ou em horas de folga - morrem por serem policiais, é fato.

Pelo quê morrem os policiais?

A Instituição Policial foi transformada pela propaganda negativa de viés esquerdista em "lado do mal", faz tempo. De forma visível, a doutrinação política inoculada aos brasileiros nas escolas, universidades, meios culturais e em vários outros nichos sociais, mostra a figura de um bandido "vítima da sociedade" sendo "oprimido" pelos "ricos", cujo braço armado e cruel é a polícia. O policial é, então, o vilão da estória: mau, corrupto, violento, asqueroso - enquanto o ladrão e traficante é "apenas um garoto pobre, tentando sobreviver e ser feliz". A torcida é pelo criminoso, a expectativa é que a malandragem vença a justiça: afinal, o bem vence o mal. Entendeu?


A inversão dos valores é absurda, ridícula! Mas está nos noticiários e telenovelas, no cinema nacional, nas aulas das Universidades Federais e IFRNs, nos livros do MEC, nas músicas dos bailes funk e nos shows de reggae, no ideário político de partidos como o PT e PSOL, nas decisões do Judiciário, nas falas de sabe-se lá quantos que detestam ser parados numa blitz. A Sociedade Brasileira, generalizando, não valoriza a polícia.

Pelo quê os policiais dão a vida?

Nos grupos ZAP, a foto de mais um policial morto em confronto com assaltantes viralizou. Mais uma cena de sangue escorrendo pelas calçadas. Será que vão dizer que a culpa é do próprio combatente tombado? Que Deus abençoe a memória desse Herói. Mas admito que é necessário perguntar: "herói para quem" ? Não se é um herói sem que haja reconhecimento alheio do valor de sua atitude.

Policiais recebem mal, tem alto índice de doenças por stress, trabalham em péssimas condições, lidam com a desgraça cotidiana. E morrem como vivem, no descaso e abandono.

É pelo quê, pelo Amor de Deus, que essas pessoas se expõe ao sacrifício da própria vida? Nem os mais próximos entendem!

Em verdade, não há bons motivos para heroísmos, nem para orgulho ou vanglórias. Nas verdades do trabalho policial brasileiro, quase tudo é impotência, vergonha, constrangimento, isolamento. Não se vê luz no fim do túnel, não há esperanças.

É madrugada chuvosa enquanto escrevo. Meu distintivo e minha pistola estão na cabeceira da cama. Espero apenas o dia clarear para ir até a Delegacia, doar mais esse meu dia, pois a noite já se foi, insone, pensando nessa vida de polícia.

Um desaparecimento investigado pela minha DP pode ter solução com uma ossada que foi encontrada junto a dois corpos de uma execução do final de semana; Preciso conversar com um certo informante sobre o paradeiro de um investigado por roubo; Há várias intimações para entrega urgente; Muitas pessoas reclamando de uma onda de assaltos em certo setor, é preciso chegar junto; preciso também lembrar de fazer contato com as vítimas de um certo assalto, para  botar coisas no papel; é bom colocar um casaco hoje, pois ainda estou resfriado e a previsão é de levar chuva de novo... E a vida vai...

Somos dois policiais no meu Setor de Investigação, para dar conta de centenas de Inquéritos em andamento. Normal. É preciso prosseguir - lutando contra o crime, lutando contra a falta de condições de trabalho, lutando contra as brechas legais que garantem a impunidade dos criminosos, lutando contra o atraso no pagamento, lutando contra o "Sistema" que, todos sabem, é sempre errado. Lutando, lutando, lutando...

É outro dia de luto por policiais mortos. E sigo vivendo.

Não sei pelo quê os policiais dão a vida, mas estou nessa. E hoje vou fazer a manutenção da minha arma rezando, antes de tocar em qualquer papelada.

Que Deus abençoe a você também!

Erick Guerra, O Caçador

Nenhum comentário: