domingo, 9 de julho de 2017

A madrugada dos vira-latas versus delação premiada

Por Marcos Pinto

As madrugadas desenroladas nos bastidores do poder estão superpovoadas por vira-latas investidos do estonteante poder de mando.  Uns, já condenados por sentença transitado em julgado, estão a viver a réplica   coreográfica do inferno de Dante.  Dividem celas diminutas e sob rígidas imposições das normas prisionais. Vêem-se obrigados a digerir alimentos acondicionados nas famosas quentinhas, de qualidade duvidosa.  Rosnam num esgar de ira ameaçadora, vomitando vilezas e insultos que roubam-lhes até o refúgio das lágrimas.

Outros, que já venderam até a alma ao Demo (Ou seria aos Demos?)  Na dúbia e suspeita delação premiada, andam lépidos e dissimulados no meio da sociedade, mesmo tendo uma tornozeleira eletrônica oculta sob a caríssima indumentária. Não resistem à menor lufada de moral republicana.  De tanto furtarem e roubarem às escâncaras, arrotam de fartos num exalar pútrido e fétido de cinismo e desfaçatez.

São vira-latas que surgem das sombras, sob os acordes   do tilintar do vil metal.   Assusta-nos a constatação de que esses detestáveis e desprezíveis vira-latas   apresentam uma espécie do dom   da   ubiquidade.  Estão em todos os lugares –  da sotaina   à farda militar.  Do mais vulgar prostíbulo até a mais alta Corte do país.

Quando flagrados na abjeta prática de ladravaz, injetam os olhos de ira biliosa e vingativa. Revela-se-lhes um cinismo correlacionado com o diabo.  Com a fartura oriunda do butim, adquirem ábitos de glutão e de bêbado. Imprimem um novo estilo comportamental, escudando-se em providencial orgulho, sob a tutela dos sinais exteriores de portentosa riqueza.

Audaciosos, personificam um perene monólogo, ligando a solidão voluntariosa a um viver de alma penada e sebosa.  Aparecem como se fossem os últimos representantes de uma raça de chibatados incapazes de resistência moral ilibada.  O materialismo doentio que lhes corrói   a   alma passam a impressão de que seguem como se aguardassem alguma coisa retardada de há muito.

Em suas madrugadas de vira-latas engendram um consórcio silente para o comensal butim. Concorrem decisivamente para a falência da saúde pública, em que a falta de insulina  leva o diabético à morte; a criança a uma infecção   generalizada seguida de morte por inexistência de medicamentos eficazes que a salvaria.

Levam à morte prematura de jovens parturientes. Singulares particulares que nos revolta diante a corrupção generalizada. São passageiros que lotam o trem da vida puxando vagões cheios de sobressaltos da esperança, cujo combustível é a amargura do desespero.   Compõem semblantes numa triste expressão de depressão.

No meio dos labores e sabores constantes, esses vira-latas seguem regurgitando a vida ponto a ponto, com a ganância e o egoísmo a observarem a predisposição fatal e total para a vadiagem e para o   vício.   Espanta-nos a maneira vil   desses entes diabólicos dizendo as coisas com com notas altas na voz, com impaciências nervosas de biliosos. A vida toda regulada por hábitos peçonhentos.

Ademais, tem as miseráveis resignações de um vira-latas expulso do rebuliço cotidiano.  Nunca capitularei com essa súcia de desordeiros.  Esse desolador cenário de perene madrugada dos vira-latas fará com que, mais tarde, ao lembrá-lo, eu possa dizer: Período de que ainda hoje não posso lembrar sem ranger os dentes e afogar os olhos em grossas lágrimas.

Inté.

Marcos Pinto é advogado e escritor.

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