segunda-feira, 18 de novembro de 2013

“O aroma das sementes de alfazema queimando no braseiro de ágata subiu na fumaça, invadiu a casa e anunciou o seu nascimento”

“O aroma das sementes de alfazema queimando no braseiro de ágata subiu na fumaça, invadiu a casa e anunciou o seu nascimento”.

A guardian da história feminina de Apodi, passou os primeiros anos da sua infância, de 1962 a 1969, na sua aldeia Tapuia Paiacu, na casa grande do sítio Santa Rosa, município de Apodi. Em um ambiente bucólico, conviveu intensamente com a natureza, despertando com o canto dos pássaros ao alvorecer, tomando leite quentinho do peito da vaca, sentindo o cheiro das flores, do mato, da terra, tomando banho de chuva, dando cangapé na lagoa, açudes, córregos e rios. Sob os cuidados dos seus pais, Valdemiro(in memorian) e Mozinha e dos irmãos que lhe antecederam: Neta, Rita, Gilvan, Socorro, Dilma e Vilma, aprendeu a jogar pedras, baladeiras,danças de rodas , soltar pipa, fazer bonecas de pano e brinquedos de lata de óleo, caixa de fósforo, catembas de côco e osso de boi. Depois aprendeu também a cuidar da casa e dos seus irmãos mais novos: Antônio, Júnior e Vanuza. Aprendeu a rezar com sua mãe que toda noite reunia os dez filhos ao redor da sua cama e depois ia para o terreiro da sua casa, contar estrelas no céu sem nuvens do Vale do Apodi.

Cresceu capturando vagalumes e cigarras, correndo, de pés descalços pelos serrotes, colhendo manga, banana, laranja e cajarana, comendo beijú na casa de farinha e queijo no sótão da casa dos seus avós maternos, Chico Tomaz e Sebastiana. Vivia tangendo cabras e bodes, pastorando o plantio de arroz do seu pai com um espantalho e invadindo a olaria artesanal do seu avô paterno Pedro Quim, para fazer, com suas frágeis mãos, a louça usada nos cozinhados das bonecas de pano com as quais brincava.

O tempo passava e o alpendre da avó paterna, Chiquinha, era uma espécie de refúgio de todos. Dali pulava o parapeito para subir no pé de cajarana, tão antigo, cuja idade nunca soube, e, para amenizar o calor, o banho era na cacimba no leito do rio seco. No fim da tarde, depois de um dia balançando o espantalho, Vilma e Vilmaci abandonavam o trabalho e saiam da palhoça que lhes guardava do sol, enquanto cuidavam do plantio de arroz, para assistir o crepúsculo. Em silêncio, viam a claridade mergulhar lentamente por trás das mangueiras, coqueiros, laranjeiras, bananeiras, aquilo que, ainda hoje, chamam na Santa Rosa de pomar da felicidade. No caminho de volta para casa, na hora da ceia, os passos, eram dados na cadência do canto dos pássaros que se despediam daquele dia.

Aos sete anos, em janeiro de 1969, a família deixou o Sítio Santa Rosa porque seu saudoso pai, Valdemiro Pedro Viana, fora eleito Prefeito de Apodi, obrigando a mudança. Foram então morar numa casa, por ele construída na Rua Padre Benedito Alves, que estava sempre cheia de correligionários, políticos, familiares e amigos. Ali em frente à Escola Estadual Ferreira Pinto, onde Vilmaci estudou todo o curso primário. Na calçada daquela casa sua mãe plantou um pé de castanhola para saudar os novos tempos. Assim passou sua infância, dividida entre o Sítio Santa Rosa, rasgando seus pés no Lajedo de Soledade, onde aos domingos com sua amiga Wanda de João de Eduardo (in memorian) ia brincar de se esconder naquelas pedras. Tomando banho no balneário da lagoa, no córrego de Júlio Marinho, comendo buchada no mercado público, na feira dia de sábado e nas ruas da cidade, onde pulava corda, brincava de esconde esconde, bandeirinha e de muitas brincadeiras de roda.

Sua mãe Mozinha, era uma mulher muito prendada e com o intuito de preparar a filha para a vida, logo lhe matriculou nos cursos de Bordado a mão com a professora Francisquinha de Pedro Marinho, Datilografia com a professora Taninha Costa e Arte-Culinária com Socorro de Belchior. Estudou o ginasial na Escola Estadual Professor Antônio Dantas e em 1979 cursou o 2° ano do ensino médio no Colégio Dom Bosco de Mossoró. Em 1980, concluiu o ensino médio em Natal, no colégio e curso Hipócrates. Em 1982 foi aprovada no vestibular para o curso de Educação Artística - Artes Cênicas, da UFRN-Universidade Federal do Rio Grande do Norte e no mesmo ano, ingressou no serviço público como Teletipista da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. A faculdade lhe proporcionou momentos maravilhosos. Muitos congressos, viagens e estágios no projeto Rondon, quando conheceu o vale do São Francisco e desfrutou da cultura da localidade de Carrapicho/SE e Penedo/AL. Em 1986, aprovada em concurso público estadual, lecionou a disciplina Educação Artística no Colégio Atheneu Norte-Rio-Grandense e na Escola Estadual Anísio Teixeira, na cidade Natal.

No grande anseio de sempre adquirir novos conhecimentos, foi para Belo Horizonte/MG, em 1987. Na capital mineira estudou na FAFI-BH, concluindo a pós-graduação em Educação Especial. Paralelamente se dedicou a estudar Teatro, na UFMG, onde passou a conviver e beber da fonte da sabedoria dos intelectuais das artes de Minas Gerais.

Em Dezembro de 1988, foi morar em Porto Velho, Rondônia, já casada com o engenheiro civil, construtor e atual empresário ceramista, José Genival dos Santos. Durante 10 anos desfrutou daquela região da Amazônia onde desenvolveu atividades em diversas instituições educacionais e culturais daquele Estado. Neste período viajou muito pelo interior do estado, onde conheceu a cultura do homem da floresta, do indígena e do seringueiro. Foi também à Bolívia, onde se deliciou com a típica cultura e a “parrillada/pacenha”. Foram tempos inesquecíveis e de ricas experiências nas terras do Marechal Rondon. Em 1997 escreveu o livro de memórias: “Trajetórias Políticas”, registrando a Trajetória política dos prefeitos Isauro Camilo, Valdemiro Viana e Hélio Marinho.

No entanto, a maior conquista em Rondônia, foi o nascimento de Anabele, sua preciosa filha. Um dia inesquecível, aquele 19 de Abril de 1989, sob o clima úmido e quente da floresta tropical. Apesar de distantes, aqueles momentos estão presos à sua memória: a floresta encantadora com seus ipês coloridos, os banhos nos rios, os igarapés misteriosos, a diversificação de peixes e os crepúsculos encantadores no rio Madeira. Confessa que ainda sente saudades desse ambiente, completamente diferente do sertão nordestino, onde nasceu e se criou. Uma época de muito aprendizado e realizações marcantes, onde destaca a sua passagem como Secretária de Cultura daquele estado no governo de Waldir Raupp, a fundação da ASAPORDE- Associação dos Artistas Portadores Deficiência do Estado de Rondônia e a participação como integrante da equipe de elaboração do projeto para construção do Teatro daquele Estado.

As recordações e a saudade da terra Apodi, e o cheiro do mar são irrefreáveis e no verão de 1998, Vilmaci e sua família, a convite do seu saudoso pai, retornam à terra potiguar. Natal recebeu de braços abertos e com muito amor a aldeã dos pés rachados da chapada do Apodi. Ficou então a escritora Vilmaci, dividida entre Natal e Apodi, onde foi administrar junto com seu esposo a cerâmica Santa Rosa de propriedade do seu pai. Em Apodi, paralelamente, colaborou na administração do Prefeito José Pinheiro Bezerra, participando da elaboração do plano de ação social do município e como assessora cultural da primeira dama Dra. Lourdes Bezerra. Foi presidente fundadora da AVA - Associação dos Voluntários de Apodi, sócio fundadora da Academia Apodiense de Letras, idealizadora do Memorial em Banner do Prefeito Valdemiro Pedro Viana e curadora da exposição aquarela de sua mãe Mozinha.

Em 2006 escreveu o livro “Paisagens Femininas de Apodi”, onde resgatou a memória das ilustres apodienses que fizeram e fazem a história do município.

Em Natal, acompanhou todo o desenvolvimento intelectual de sua filha Anabele, graduada em Geologia pela UFRN e passou a trabalhar na área cultural e a integrar os movimentos culturais da cidade, participando e promovendo saraus literários, lançamentos de livros, encontros, exposições, seminários, cursos, festivais, tendo colaborado, como voluntária, nos eventos promovidos pelo Memorial da Mulher, da Academia Feminina de Letras do Rio Grande do Norte e da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte – SPVA/RN.

Sua grande obrigação hoje é agradecer a Deus pela vida maravilhosa que Ele lhe proporciona e seus maiores prazeres consistem na convivência com sua família e bons amigos, apreciar a natureza, escrever, organizar o projeto do acervo cultural de Apodi, ser solidária, ler, ouvir música, tomar um bom vinho e se deslumbrar com o pôr do sol e o luar. Atualmente, sente um prazer especial em viajar pelo mundo, desvendando os mistérios de novas culturas. Dentre tantas viagens que fez, se encantou com a Ilha de Fernando de Noronha, Ilha da Madeira, Lisboa, Madri, Paris, Londres, Irlanda, Buenos Aires, Bariloche, Ushuaia, El Calafate, Lima, Santiago, Bogotá, Cartagena das Índias e suas ilhas do Caribe, a beleza do mar de Cuba, a musicalidade e a alegria de sua gente. Porém, o que mais lhe encanta é vislumbrar a sua terra Apodi.

Atualmente, é ativista cultural, memorialista e trabalha na difusão da cultura potiguar através do blog: www.vivicultura.blogspot.com.br, alem de pertencer honrosamente das seguintes instituições:

UBE/RN- União Brasileira de Escritores-Secção RN
AAPOL- Academia Apodiense de Letras
AJEB/RN- Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil-Secção RN
SPVA/RN-Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte
APROMA – Associação Pró-Memória de Apodi.
Neste momento, quer dividir a sua história e festejar a vida. E, como Pablo Neruda dizer: “vivi por viver, vivi”.

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