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"Morte do Padre Philipe Bourel", de autor desconhecido da Escola Portuguesa do Seculo XVIII, é a primeira tela da mencionada Escola que registra uma paisagem do Brasil |
Um povo que não olha para o seu passado não entenderá o
hoje, pois rompeu com a sua história e se perderá no caminho do futuro por
suprimir elos que deveriam liga-los, como um quebra-cabeça que lhe falta as
peças para a sua armação. Uma cidade histórica que não tem monumento, marcos, bustos,
estátuas, obeliscos, arcos, etc é uma borracha no seu passado.
É voltando ás páginas amarelecidas, recapitulando,
encaixando os acontecimentos mais longínquos dos primórdios imemoriais que só
através dos alfarrábios conseguimos nos deparar com vultos e passagens
louváveis do povoamento das terras de Apodi, que com certeza insofismável
extrapola a nossa circunscrição municipal e, nos projeta no cenário estadual,
até mesmo no nacional. Quem leu o livro do jornalista Laurentino Gomes (1822),
um dos mais vendidos do Brasil em 2011, vê que o autor se detém reportando a
Chapada do Apodi sobre a lenda mítica da Labatut. Essa é outra história que
dará mais um monumento, vamos explorá-la futuramente.
Um monumento para Apodi será um marco indelével como registro
de quão importante é o seu passado, para isso se faz necessário resgatá-lo e
historiar, não só aos seus filhos, mas para o campo fértil do turismo. Sim,
ergam o monumento, por que já fazemos parte do conjunto das muitas cidades
deste país com passado enriquecido ao longo das datas, porém rompido com o
antes e o depois, por não termos sequer um monumento erguido em suas vias e
logradouros. Para não olvidar e ser injusto há um acanhado busto do ex-chefe
político, Francisco Pinto, chantado na pequeníssima praça de mesmo nome.
O que ora aqui faço, nada mais é o eco do nosso
historiador Walter de Brito Guerra, que nos denunciava a falta de monumentos e
a não preservação desses, como o do Bicentenário da Paróquia, demolido antes de
concluído como fora projetado. É revendo a história de Apodi que encontramos
nos compêndios de Olavo de Medeiros Filho (Notas para a História do RN, 2001 e
Ribeiras do Açu e Mossoró, 2003), o registro e ressurreição do episódio da
morte do padre Felipe Bourel, a quem os apodienses devem justas homenagens. Tal
fato se sobressai, ao da primeira tela pintada no Rio Grande do Norte, em 1709,
em terras de Apodi, que retrata a morte do fundador da Missão de São João
Batista da Ribeira de Apodi, por consequência de embate aguerrido entre índios
Paiacus e Janduís.
Por um monumento clamamos a ser erguido às margens da
lagoa de Apodi, no trecho conhecido por Calçadão, doravante: complexo Turístico
Lacustre – Padre Felipe Bourel e contendo a fixação, em grandes dimensões, da
réplica do quadro original que se encontra no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro e cópia no Instituto Histórico e Geográfico do RN. Estendemos os
parabéns pelos os que estão engajados nessa luta, à Câmara Municipal de Apodi,
principalmente ao edil Evangelista, por acatar esse ideal brilhante partido de
cidadãos apodienses comuns. A idealização veio da iniciativa do senhor Railton
Dantas que me pediu uma sugestão de nome de ente da nossa história para nomear
aquele calçadão construído com verbas do governo federal. Nada mais correto,
lógico e pertinente o nome do missionário Felipe Bourel por aldeiar os índios
naquele espaço e, consequentemente, pela história que se desdobra. Agrupa
ainda, com este ideal participando de reunião, os professores César Silva e
Ozamir Souza, o advogado Pedro Martins, o técnico em eletrônica, Francisco
Noronha e o pároco Maciel. Ainda, Adonias Sousa, Antônio Lopes, Roberto
Hellinsk, Raimundo Marinho Pinto e tantos outros e entidades jurídicas que
apoiam e incentivam a proposta. Os que omitimos seus nomes foi por falta de
espaço neste escrito.
Um monumento para Apodi dependerá, também, do poder
executivo municipal sancionar o projeto aprovado pelo legislativo, emplacando-o
e se fazer erguer o marco colosso imbatível as intempéries, de magnificência
beleza arquitetônica, já que a história requer e está à altura, para que seja
contemplado pelos olhos dos visitantes, unindo com a visão agradável da lagoa à
arquitetura do monumento e, sem ficar para trás, a riqueza da nossa
história.
Então, parece-nos que nesta contextura a própria história
do Apodi conspira a favor, coincidentemente, hoje, temos uma historiadora de
formação acadêmica – prefeita – par unir o útil ao agradável.
Registre-se! Ergam-no, perpetue à posteridade!
Natal, 22 de março de 2012.
Nuremberg Ferreira de Sousa
Licenciado em Geografia
(Artigo
originalmente publicado n'O Jornal de Hoje, no dia 31.03.12)