Medicina é uma
profissão que oferece status, mas só aqui no Brasil. Viaje para o exterior, se
puder. Lá, o médico é um trabalhador como outro qualquer que deve respeitar e
ser respeitado como outro qualquer. O problema é que ao passar no vestibular o
acadêmico veste uma couraça de antipatia e superioridade.
A arte de
medicar, curar, cirurgiar é, na minha opinião, a mais brilhante de todas as
profissões. Todo mundo já quis ser médico pelo menos alguma vez na vida. Vestir
aquela roupa branca, enrolar o estetoscópio no pescoço e com um olhar poder
salvar vidas. É coisa divina! E por se tratar de uma atividade tão fantástica,
seus, vamos dizer assim, operadores deveriam ser tão grandes quanto.
Falo aqui, por
experiência própria, e olha que não tenho tanta experiência assim, que tenho
medo dos médicos e que por muitas vezes preferi automedicar-me a sair do
conforto da minha cama para aturar a cara feia de um “doutor”. Sou bem mais
tratada nas Lojas Riachuelo. Conto em três dedos o número de vezes em que fui
atendida bem por um médico.
Já discuti com
alguns médicos e médicas. Digo a vocês que não vale muito a pena não. Eles não
escutam. Eles não te olham. Nem te percebem. Você não é ninguém. E ai de você
se chegar com febre na hora do seu sono, mesmo que o dito cujo já esteja com
meia hora de atraso, trancado em seu apartamento, podendo estar em seu plantão,
fazendo com que se forme nos corredores um amontoado de mazelentos, que não
estão ali por que querem ou gostem. Eles estão doentes. São crianças com 39° de
febre. Idosos que estão em pé, sim porque não tem cadeiras. São moças e rapazes
que poderiam estar em casa, estudando, trabalhando ou fazendo nada. Contudo, tem
uma exceção: você tem que ser filho de um amigo conhecido, ou parente de alguém
próximo ao diretor do hospital, ou ter um contato para ser atendido rápido. Ou
então espere, se vire.
Em minha última
experiência, um médico até novo, fez-me sentir-me culpada por estar doente.
Entrou em meu quarto às 8 horas da manhã aparentemente cansado daquilo tudo. Eu
disse entrou no meu quarto? Força de expressão! Ficou ali, na porta mesmo. Imaginem
só, fui examinada da porta! Fazia-me perguntas e não me deixava respondê-las. Entendo,
o que tenho a dizer diante de sua grande inteligência? Falava com uma amiga ao
celular quando ele chegou, o mal educado nem me deixou finalizar a ligação,
como se pensasse: quem você pensa que é para me fazer esperar sua ligação?!
Olhei bem profundo em seus olhos, nos rápidos lances em que ele se dispunha a
olhar pra mim e enviei-lhe desprezo e repúdio a sua atitude. Não podia
reclamar. “Precisava” passar por isso.
A mensagem que
quero passar para vocês médicos e aspirantes, é que vocês não perceberam a
grandeza que é a profissão de vocês e como ela é importante para a população.
Vocês são como anjos! Vocês entram na vida das pessoas na hora em que elas
estão mais frágeis, nos momentos em que elas mais precisam de atenção. Isso não
é pouco. Se é pelo dinheiro, vão fazer direito, engenharia, vão estudar para
passar no concurso da Receita Federal! Qualquer coisa, mas não tratem com tanta
a frieza a vida das pessoas. Agradeço por existirem, mas estou indignada com
sua falta de compaixão e amor.
Sei que por
muitas vezes faltam-lhes condições básicas de trabalho. O excesso de plantões
os sobrecarregam e os deixam assim, sem paciência. Eu sei, isso não é problema
seu. Nem meu. O buraco é mais em baixo. É, de fato a Saúde é uma instituição
falida. Isso não vai mudar. É complicado demais. É pouco dinheiro não é mesmo?
Tem as campanhas eleitorais, as candidaturas e tal. A solução é todo mundo
fazer um plano de saúde, mas falta dinheiro. E quem não tem? São OBRIGADOS a sujeitarem-se
a vocês médicos mal humorados, sem educação, arrogantes, prepotentes, egoístas
e ignorantes. Que coisa feia. Sejam médicos de amor e mude a história de vocês.
Estou referindo-me no sistema público de saúde. Ou será que vocês iriam
destratar um paciente na rede particular? Agora me digam: qual a diferença? O
que os fazem pensar que a dor de um rico é maior do que a de um pobre? Igualem
suas formas de tratamento, somos todos iguais, viemos do mesmo lugar e para lá
voltaremos TODOS.
Concluo
reafirmando minha idéia de que a Medicina é linda, mas vocês a tem desmerecido
e não são dignos de serem chamados de médicos. Stress? Cansaço? Fadiga? Em toda
profissão tem. Revejam seus conceitos, olhem com quem vocês estão lhe dando.
Não são com parafusos, papéis ou máquinas, são vidas, ou melhor, são vidas já
fragilizadas que pelas suas respectivas enfermidades entregam em suas mãos a
confiança de curar-lhes. Honrem isto.
Enviada pela leitora Yuriana
Bandeira.